segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

CONHECE-TE A TI MESMO

Um guerreiro samurai, conta uma velha história japonesa, certa vez desafiou um mestre Zen a explicar os conceitos de céu e inferno. Mas o monge respondeu-lhe com desprezo:
- Não passas de um bruto... não vou desperdiçar meu tempo com gente da tua laia!
Atacado na própria honra, o samurai teve um acesso de fúria e, sacando a espada da bainha, berrou:
- Eu poderia te matar por tua impertinência.
- Isso - respondeu calmamente o monge - é o inferno.
Espantado por reconhecer como verdadeiro o que o mestre dizia acerca da cólera que o dominara, o samurai acalmou-se, embainhou a espada e fez uma mesura, agradecendo ao monge a revelação.
- E isso - disse o monge - é o céu.
A súbita consciência do samurai sobre seu estado de agitação ilustra a crucial diferença entre alguém ser possuído por um sentimento e tomar consciência de que está sendo arrebatado por ele. A recomendação de Sócrates - "Conhece-te a ti mesmo" - é a pedra de toque da inteligência emocional: a consciência de nossos sentimentos no momento exato em que eles ocorrem.

A autoconsciência não é uma atenção que se deixa levar pelas emoções, reagindo com exagero e amplificando a percepção. Ao contrário, é um modo neutro, que mantém a auto-reflexividade mesmo em meio a emoções turbulentas. William Styron parece descrever algo semelhante a essa faculdade da mente, ao escrever sobre sua profunda depressão, quando fala da sensação de "estar sendo acompanhado por um segundo eu - um observador fantasmagórico que, não partilhando da demência de seu duplo, pode ficar observando com desapaixonada curiosidade enquanto o companheiro se debate."

No ponto ótimo, a auto-observação permite exatamente essa consciência equânime de sentimentos arrebatados ou turbulentos. No mínimo, manifesta-se simplesmente como um ligeiro recuo da experiência, um fluxo paralelo de consciência que é "meta": pairando acima ou ao lado da corrente principal, mais consciente do que se passa do que imersa e perdida nele. É a diferença entre, por exemplo, sentir uma fúria assassina contra alguém e ter o pensamento auto-reflexivo: "O que estou sentindo é raiva", mesmo quando se está furioso. Essa consciência das emoções é a aptidão emocional fundamental sobre a qual se fundam outras, como o autocontrole emocional.

Autoconsciência, em suma, significa estar "consciente ao mesmo tempo de nosso estado de espírito e de nossos pensamentos sobre esse estado de espírito", nas palavras de John Mayer que com Peter Salovey, co-formuladores da teoria da inteligência emocional. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário