terça-feira, 3 de abril de 2012

QUARESMA - UM TEMPO DE ENCONTRO


Chegando aos últimos dias da Quaresma somos convidados a parar um pouco e pensar o que foi, o que significou mais esse tempo em nossas vidas. É comum pensarmos neste momento litúrgico como uma oportunidade de fazer memória de nossas atitudes, assumir novos compromissos e, quiçá, viver uma verdadeira conversão.

Por isso mesmo, entendo que a Quaresma não deve se limitar a um período de 40 dias tão importante em nossa vida espiritual. Ela deve perpassar a nossa vida em uma contínua busca por nos encontrarmos com o Senhor. Sim, um encontro, eis a melhor descrição do tempo quaresmal. É tempo propício para nos encontrarmos com a verdade do nosso ser e com o sentido de nosso viver. É momento de compreendermos que a vida tem um sentido e que esse está para além de nós mesmos, o que possibilita que ele nos dê uma direção.

Para entendermos, voltemos ao texto bíblico lá do início da Quaresma. O Evangelista Mateus nos narra que “... Jesus foi levado pelo Espírito para o deserto, para ser tentado pelo diabo. Por quarenta dias e quarenta noites esteve jejuando. Depois teve fome.” (Mt 4,1-2). Já seria de se interrogar essa afirmativa: “foi levado pelo Espírito (…) para ser tentado”. À primeira vista, um contrassenso: o Espírito conduzindo o Senhor para ser tentado. Mas olhemos com um olhar mais atento. O profeta Oséias apresenta o deserto como um lugar de encontro profundo, um espaço onde nos extremos e adversidades Deus se faz presente para falar na intimidade com os seus (Os 2,16). Como afirma o autor sagrado: “Foi num deserto que o Senhor achou seu povo, num lugar de solidão desoladora; cercou-o de cuidados e carinhos, e o guardou como a pupila de seus olhos”(Dt 32,10). Compreendemos assim porque conduziu o Espírito ao Senhor para dentro de um deserto. O motivo é o mesmo que leva o Amado Senhor a nos fazer esse convite de encontro.

Quaresma é tempo de, olhando nas profundezas do nosso ser, encontrarmos um sentido que seja verdadeiro e que, por isso mesmo, supere as tentações de ter, prazer e poder. É espaço, não do tempo cronológico com o qual nos acostumamos, mas, sim, de um kayrós ou tempo da graça, tempo de Deus que supera os limites do controlável e adentra nas raízes profundas de nossas vidas. Quaresma é encontro com aquilo que não passa e que nos remete ao eterno, ao pleno. É uma experiência de se desmascarar perante aquele que nos conhece inteiramente. É adentrar em uma metanoia, em uma conversão que represente não apenas atos externos, mas, sim, uma transformação nas atitudes, na essência do nosso fazer. Isto significa que não é apenas um momento em que tomamos certas posições que com o tempo se esquece. Quaresma implica uma radical adesão a Cristo assumindo-O como verdadeiro Senhor.

Talvez por isso temos os 40 dias, esse tempo propício para tomarmos a grande decisão de sair de um tempo de escuridão, para, encontrando com o Senhor dos senhores, começarmos a vida nova. Aquela conquistada para nós pelo Cordeiro de Deus, o Bom Pastor ( Jo 10,10).

Pensando desta forma, entendemos porque a Igreja nos convida com tanto zelo a vivermos esse tempo. Entendemos porque tantos santos e santas faziam de suas vidas uma contínua Quaresma. E compreendemos também porque viver a cada ano novamente essa experiência. E como não há um único tempo para mergulharmos nessa busca por este grande encontro, aproveitemos esses últimos dias desta Quaresma para, retomando as nossas propostas e desejos de vida nova, iniciarmos a grande festa de uma vida quaresmal. Isto é, uma vida de contínua conversão e de encontro pessoal e profundo com o nosso Amado.

(Arley Humberto - Comunidade Filhos de Maria)

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