quinta-feira, 5 de abril de 2012

O LAVA-PÉS POR BENTO XVI

Na descrição da última noite de Jesus com os seus discípulos antes da Paixão, põe em destaque dois fatos muito particulares: em primeiro lugar, narra-nos como Jesus prestara aos seus discípulos o serviço de escravo no lava-pés; nesse contexto, refere também o anúncio da traição de Judas e a negação de Pedro. O segundo aspecto que atingem o seu apogeu na Oração Sacerdotal.

"Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim" (13, 1). Com a Última Ceia, chegou a "hora" de Jesus, para a qual se orientava a sua atividade desde o princípio (cf. 2, 4). O essencial dessa hora é delineado por João com duas palavras fundamentais: é a hora da "passagem" (metabaínein - metábasis); é a hora do amor (ágape) "até o fim".

No texto do lava-pés, a palavra "puro" aparece três vezes. Com esse termo, João retoma um conceito fundamental da tradição do Antigo Testamento, bem como do mundo das religiões em geral. Para poder comparecer diante de Deus, entrar em comunhão com Deus, o homem deve ser "puro". Mas, quanto mais entra na luz, tanto mais sujo e necessitado de purificação se sente. Por isso, as religiões criaram sistemas de "purificação" com a finalidade de dar ao homem a possibilidade do acesso a Deus.

E imediatamente surge a pergunta: Como se torna puro o coração? Quem são os homens de coração puro, que podem ver a Deus (cf. Mt 5, 8)? A exegese liberal disse que Jesus teria substituído a concepção ritual da pureza pela moral: no lugar do culto e do seu mundo, entraria a moral. Então o cristianismo seria essencialmente uma moral, uma espécie de "rearmamento" ético. Mas desse modo não se faz justiça à novidade do Novo Testamento.

A verdadeira novidade divisa-se quando, nos Atos dos Apóstolos, Pedro toma posição em face da objeção de fariseus convertidos à fé em Cristo, que pedem que os cristãos vindos do paganismo sejam circuncidados e lhes seja ordenado que "observem a lei de Moisés". A isso replica Pedro: "O próprio Deus tomou a decisão de fazer com que "os gentios ouvissem da minha boca a palavra da Boa Nova e abraçassem a fé (...); não fez distinção alguma entre nós e eles, purificando seus corações pela fé" (15, 5-11). A fé purifica o coração. A fé deriva do fato de Deus Se voltar para o homem. Não se trata simplesmente de uma decisão autônoma dos homens. A fé nasce porque as pessoas são tocadas interiormente pelo Espírito de Deus, que lhes abre o coração e o purifica.

No capítulo 13 do Evangelho, o lava-pés realizado por Jesus apresenta-se como o caminho de purificação. Uma vez mais se exprime a mesma coisa, e novamente de um ângulo diferente. o lavacro que nos purifica é o amor de Jesus: o amor que se empenha até a morte. A palavra de Jesus não é simplesmente palavra, mas Ele próprio. E a sua palavra é a verdade e o amor.

(Fragmentos do livro - Jesus de Nazaré - Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição)

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